Ei!, espera aí Isso aqui NÃO é um mangá!

Ei!, espera aí! Isso aqui NÃO é um mangá! Vai começar a ler a nossa estória pelo final? Se você quer lê-la com sentido, clique aqui e vá para o primeiro... "capítulo” (que é do dia 02/04/2014). Depois... é só clicar em "Postagem mais recente" (do lado esquerdo, no rodapé de cada página!) ou... deslizar o dedo (também para a esquerda), como se estivesse virando uma página de um livro!!!).Então!, boa leitura! (e... espero que goste!!!)

terça-feira, 8 de julho de 2014

Ei!, espera ai!


Ei!, espera aí Isso aqui NÃO é um mangá! Vai começar a ler a nossa estória pelo final?

Se você quer lê-la com sentido, clique aqui e vá para o primeiro... "capítulo"

Depois, é só clicar em "Postagem mais recente" (do lado esquerdo, no rodapé de cada página!) ou... deslizar o dedo para a esquerda (como se estivesse virando uma página de um livro!!!)

Então!, boa leitura! (e... espero que goste!!!)



segunda-feira, 7 de julho de 2014

Nota da “ convertedora "

Nota da “ convertedora ” :

“Gente?!, e... A ESCRITURA ! ! ! !


Ah!, tá bom!, foi mais bonito Betty ter sentido que Armando a amava!, verdadeiramente!!!! “


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Agora, sim : FIM ! ! ! !

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domingo, 6 de julho de 2014

EPÍLOGO - Uma só famí­lia


EPÍLOGO

Num chalé supermoderno, à beira de um lago maravilhoso, Beatriz e Armando se aninhavam numa enorme cama de casal.

— Ainda bem que Mário não tem um desses colchões de água que não param de balançar — comentou Armando. — Aquilo me deixa enjoado.

— Nem quero saber onde foi que você experimentou um col­chão de água — disse Beatriz, dando um beliscão carinhoso no marido — Mas, de agora em diante, não admito que experimente nenhuma outra cama além da nossa!

— Combinado! — No quarto imerso na luz da lareira, Armando virou-se e abraçou-a: — E então, acredita que eu me casei por amor?

— Você me convenceu — ela admitiu, feliz. — Nunca mais vou duvidar de você. Tenho certeza de que tudo não passou de mais um plano de Júlia e Roberto só para nos unir. É por isso que ultimamente os dois vinham passando horas e horas tran­cados no escritório. Eu nem desconfiava do que se tratava.

— E nem desconfia! Antes de partirmos, Roberto me chamou a um canto e disse que não precisamos nos preocupar em ter que dividir a casa com ele.

— Oh, Armando, eu jamais pensaria em pedir a ele que se mu­dasse; gosto muito de Roberto

— Não precisa se preocupar, meu bem. Roberto tem outros pla­nos: ele e Júlia vão morar juntos na sua casa.

— Roberto e mamãe?!

— Isso mesmo. Segundo ele, os dois pretendem marcar o ca­samento assim que voltarmos. Acho que nosso exemplo serviu de estímulo para eles.

— Oh, querido, estou tão feliz! Formaremos uma só famí­lia. Eu te amo, Armando.

— Eu também te amo, Betty... Minha esposa e melhor amiga...


FIM


( F I M ? ! ! ! ! )

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sábado, 5 de julho de 2014

Você nunca mais vai duvidar


Ignorando a mágoa estampada nos olhos dele, ela tornou a agredi-lo:

— Eu é que pergunto. Que acordo mais sujo foi este que vo­cês fizeram?

— Mas do que você está falando, meu bem?

— Leia este papel e, quem sabe, ele lhe refresque a memória.

Armando logo reconheceu a escritura:

— É a escritura da propriedade de sua mãe. E daí?

— E dai? Você conseguiu me enganar direitinho, caí feito boba na sua conversa. E dizer que cheguei a pensar que você realmente me amasse!

Visivelmente confuso, Armando puxou-a para um canto da sala e, obrigando-a a fitá-lo, disse, num tom calmo e controlado:

— Betty, diga logo o que está pensando, sim? Não sei aonde está querendo chegar com essas indiretas. Eu te amo, e não vou permitir que nada atrapalhe nosso casamento.

Beatriz olhou-o, desconfiada, mas resolveu se abrir:

— Mamãe me disse que prometeu lhe dar a escritura de pre­sente no dia do nosso casamento. Para ser sincera, acho que você realmente me ama, mas fico triste em saber que a escritu­ra o ajudou a tomar uma decisão.

— Beatriz Pinzón, como é que você tem coragem de me acusar de algo tão vil? Como pôde pensar isso de mim? Isso é coisa do meu pai. — E, bastante sério, confessou: — Eu te amo, Betty, mas o orgulho e o medo de perder minha liber­dade impediam-me de ver isso. Só o tempo fez com que eu caísse em mim e reconhecesse esta verdade. Eu jamais me casaria pa­ra herdar suas terras.

O coração de Beatriz encheu-se de esperança.

— É verdade que você me ama?

Abraçando-a pela cintura, Armando apertou-a contra si e garantiu:

— O casamento começa dentro de cinco minutos, mocinha, mas antes que o dia termine terei bastante tempo para provar-Ihe quanto a amo. E garanto que você nunca mais vai duvidar dos meus sentimentos!

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sexta-feira, 4 de julho de 2014

Claro que vai, seu idiota!


Beatriz pensou que fosse desmaiar. Então... então Armando ia se casar com ela só para anexar a propriedade à fazenda? Aquilo passara dos limites!

Primeiro foi uma dor forte no peito, que quase lhe escureceu a vista. Porém a mágoa logo cedeu lugar ao ódio e ao orgulho ferido. Como ele ousava tratá-la daquela forma? Pois Armando não perdia por esperar!

Decidida, rumou para a porta da sacristia.

— Beatriz! Onde você vai? O casamento já vai começar!

— Vou conversar com Armando!

— Mas, querida, dá azar a noiva ver o noivo antes da cerimônia.

— Mais azar do que eu já tenho? Aliás, onde está a escritura?

— Aqui na minha bolsa — disse Júlia, enquanto a procu­rava. — Não precisa entregá-la antes, querida; por que não es­pera até voltarmos para casa?

— Não. Quero entregá-la já!

Os homens ocupavam uma pequena saleta no fundo do cor­redor e, ao vê-la entrar, Armando abriu um sorriso largo:

— Querida, você está linda! Nunca pensei que ficasse tão bem vestida de noiva. Nunca vou esquecer este dia!

Quando ele tentou segurar-lhe o braço, Beatriz esquivou-se com uma fisionomia de desagrado:

— Claro que vai, seu idiota!

— Beatriz, o que houve?


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quinta-feira, 3 de julho de 2014

Escritura? Que escritura?


O dia do casamento chegou. As duas semanas haviam passa­do voando. Beatriz e Júlia cuidaram de todos os detalhes e ainda tiraram um dia para ir a Cartagena comprar o vestido.

A melhor colega de Beatriz dos tempos de escola ia ser a dama de honra, e sua avó viera de Boston especialmente para a ocasião, para desgosto de Júlia.

Na sacristia, Júlia ajudava Beatriz a ajeitar o vestido:

— Quem poderia imaginar que sua avó viria para o casamen­to? — disse, referindo-se à primeira sogra. — Se eu soubesse que ela ia aceitar, não teria feito o convite.

Mas Beatriz estava tão feliz que nem dava ouvidos às re­clamações da mãe. Dali a meia hora, ia se tornar a Sra. Mendoza. Era bom demais para ser verdade e, no fundo, temia que algo de errado acontecesse para estragar sua felicidade. Porém, balançando a cabeça, procurou acalmar-se, afastando aquele medo sem fundamento.

— Ora, mamãe, não reclame. Foi muita gentileza dela ter viajado tantas horas.

— Exatamente por isso é que ela não deveria ter vindo.

— Não exagere; ela não é tão chata assim.

— Você diz isso porque vai viajar daqui a algumas horas, enquanto eu terei que aturá-la sabe Deus por quantos dias ainda!

— Faça como você fez com Nicolás: passe o dia inteiro tran­cada no escritório, e ela acaba indo embora.

— Então você percebeu a minha tática? Cheguei a pensar que nunca nos livraríamos dele! — Então, levou a mão à testa: — Meu Deus, com tantos afazeres, esqueci-me de entregar a escritura a Armando!

— Escritura? Que escritura?

— Você não sabe? Prometi entregar nossa propriedade de presente a Armando no dia em que vocês sé casassem.

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quarta-feira, 2 de julho de 2014

À beira de um lago que reflete o luar


— Vocês ficaram malucos?! — Júlia exclamou, pasma. — Ninguém se casa às oito da manhã!

Os noivos sorriram e trocaram olhares significativos:

— Pois seremos os primeiros.

— Depois da cerimônia — explicou Armando —, viremos para cá e tomaremos um farto café da manhã ou um brunch, como queiram. Depois partiremos em lua-de-mel.

— Lua-de-mel! Meu Deus, ainda não tive tempo de pensar nisso! O que acham de ir para o Havaí? Já está ficando um pou­co comum ir para lá em lua-de-mel. Acho que seria melhor um lugar mais exótico, retirado.

— Concordo plenamente — disse Armando.

— Ainda bem; já era hora de você aceitar meus palpites — retrucou Júlia. — Vocês tinham algum lugar em mente? Eu­ropa, talvez? Austrália?

— Nada disso. Se Beatriz concordar, Mário nos ofere­ceu um chalé de madeira no sul. Segundo ele, não há lugar mais retirado do que aquele.

— Um chalé?! Você está mesmo pensando em levar a mi­nha filha para um chalé de madeira no fim do mundo?

— É simples, mas tem todo o conforto. E, então, Betty, o que acha? — Como ela concordasse, Armando pôs um ponto fi­nal no assunto: — Pronto, está resolvido. E agora, se me dão licença, vou levar minha noiva para casa.

— Pode deixar, Armando, eu vim dirigindo. Além disso, mamãe vai ficar sem condução.

— Não se preocupem — pediu Roberto — Vocês dois vão na frente, na caminhonete, que eu levo Júlia mais tarde no carro dela. Depois, volto com você, filho.

Mas Armando não aprovou a ideia:

— Roberto por que não pede a Mário que o acompanhe de carro e o traga de volta depois?

— Ora, não precisa, não me importo de esperar. Se vocês saírem agora, você já vai estar pronto para voltar quando eu chegar?

— Não sei, papai. Acho que vou demorar um pouco.

— Ah, não tem importância!

— Ou melhor, vou demorar bastante.

Mário caiu na gargalhada.

— Roberto acho que ele tem razão; eu acompanho você e Júlia e depois o trago de volta.

— Já disse que prefiro voltar com Armando, nem que tenha de tirar um cochilo sentado no sofá de Júlia.

Já na caminhonete, Armando voltou-se para Beatriz com uma expressão divertida:

— Será que teremos problemas com nossos sogros?

— Creio que não. Quando está escrevendo um livro, mamãe não se importa com mais nada. Fica o dia todo trancada no escritório.

— Ótimo. Agora, quero lhe mostrar um lugar lindo que co­nheço aqui perto. Fica à beira de um lago que reflete o luar. É um lugar excelente para namorar.

— Ah, é?! E como foi que você o descobriu?

— Um dia eu conto.

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terça-feira, 1 de julho de 2014

Preciso saber an­tes de brindar


— Ei, você se esqueceu do principal — atalhou Roberto: — e que encham a mansão dos Mendoza de filhos.

— Quantos? — perguntou Beatriz. — Preciso saber an­tes de brindar.

— Isso é algo que discutiremos depois, Betty, em particu­lar — Armando respondeu.

— Não é bem assim — Roberto insistiu. — Foi o desejo de ter netos que me fez tentar aproximá-los.

— Ora, ora... — comentou Júlia, do outro lado da sala. — Mas não se esqueça de que fui eu quem pôs fim ao impasse.

— E se não fosse a minha visita — completou Mário, re­quisitando para si parte da glória —, muita coisa não teria acon­tecido.

A discussão, no entanto, foi interrompida com o anúncio de Inezita:

— O jantar está servido. Venham logo ou levo tudo de volta para a cozinha.

Armando aproximou-se da cozinheira e abraçou-a com força:

— Eu sei por que você está tão mal-humorada: ficou com ciúme por eu tê-la trocado por outra.

— Claro que não, seu insolente! Há anos que venho tentan­do abrir-lhe os olhos para a verdade, mas você estava tão preo­cupado em bancar o conquistador que não enxergava um palmo à frente do nariz. E venha logo jantar, pois tenho minha casa e meu marido para cuidar.

Armando sorriu e brincou:

— Você me deu uma boa ideia. Acho que vou pedir uns con­selhos para Rafael antes de me casar.

Inezita fuzilou-o com o olhar e advertiu:

— Vocês têm cinco minutos para começarem a se servir, ou levo os pratos embora.

A comida estava divina, como sempre. Inezita se esmerava nessas ocasiões especiais e a cada festa os surpreendia com re­ceitas novas.

Absolutamente satisfeita, Beatriz pousou o guardanapo ao lado do prato e comentou:

— Armando, acho que você ainda não sabe, mas sou uma péssi­ma cozinheira. Acho que vou ter de tomar umas aulas com Inezita antes que ela se aposente. — E, voltando-se para a cozinheira: — Obrigada, querida, estava delicioso o jantar.

— Pena que nem todos pensem assim... — Inezita respon­deu, lançando um olhar hostil a Júlia. — Tenho trabalhado mais de dezoito horas por dia preparando os congelados para o casamento, pois eu tinha certeza de que ele iria se realizar. Mas já ouvi dizer que vão contratar um bufe da capital. Mas vou avisando de que não vou permitir que usem minha cozinha. Se quiserem, vão usar a do alojamento.

— Mas, que história é essa? — Beatriz quis saber, voltando-se para Júlia.

— Bem, querida, não tive a intenção de magoar Inezita, mas é que ela não tem prática em fazer festas para tantos convida­dos. Além disso, o bufê que estou contratando é excelente; tão bom quanto um de Nova York.

— Mamãe, vamos esclarecer uma coisa: nós não queremos festa para muitos convidados, nem serviço sofisticado. Os ser­viços de Inezita são mais do que suficientes. Além disso, não temos muito tempo para os preparativos. — E, lançando um olhar cúmplice para Armando, anunciou: — Já combinamos tudo: de sábado a duas semanas, o reverendo Turner virá celebrar nos­so casamento às oito da manhã.

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segunda-feira, 30 de junho de 2014

Melhores ami­gos que alguém poderia ter


Armando partiu com a promessa de que voltaria para buscá-la para o jantar. Porém, minutos depois, telefonou-lhe desculpando-se por não poder ir; um de seus touros premiados ficara preso numa cerca de arame farpado e precisara levar alguns pontos. Beatriz o tranqüilizou e disse para não se preocupar com ela.

Quando Beatriz e a mãe chegavam à Fazenda Mendoza, na belíssima limusine de Júlia, dois homens se aproximaram e abriram-lhe a porta. A princípio, as duas não perceberam que se tratava de Mário e Roberto. Este, muito falante, havia aberto a porta para Júlia e disse:

— Bem-vinda a esta casa, minha querida. — E ajudou-a a descer.

Beatriz assistiu à cena com certo espanto. Afinal, espera­va que as boas-vindas fossem para ela, mas Roberto agia como se Júlia fosse a noiva.

Mário, por sua vez, abriu-lhe a porta e, olhando para o ca­sal, deu de ombros, sem entender tampouco o que se passava:

— Você está linda, Beatriz — disse, estendendo-lhe a mão. — Recebi instruções de seu noivo para acompanhá-la até a sala e em nome dele servir-lhe um copo de vinho. Nada além isso. Ele acabou de chegar e foi tomar um banho. Aposto que vai voltar em menos de cinco minutos; algo me diz que Armando não confia muito em mim. — E, sorrindo, beijou-lhe o rosto com carinho. — Parabéns, querida, fico muito feliz por vocês dois.

Nem bem elas haviam sido servidas, Armando desceu correndo a escada, com os cabelos ainda molhados do banho. Sem se im­portar com os demais presentes, rumou direto para Beatriz e, aproximando-se, a fez levantar-se:

— Você está linda — murmurou, beijando-lhe as mãos.

— Como é que você sabe? — ela brincou. — Aposto que não reparou nem na cor do meu vestido.

— Não importa. O interior é o que conta.

Mário aproximou-se por trás e deu-lhe um tapinha nas costas:

— Ei, pombinhos, agora já chega! — Depois de entregar um copo de vinho para o noivo, sugeriu: — Como seu padrinho, sugiro que façamos um brinde.

— Quem disse que você vai ser o padrinho? — Armando brin­cou. — Não me lembro de ter feito o convite.

— Ora, isso não depende de convite. É fato consumado.

— Puxa, por esta eu não esperava!

— Senhoras e senhores — disse Mário, chamando a aten­ção dos presentes. — Façamos um brinde aos dois melhores ami­gos que alguém poderia ter: Beatriz Pinzón e seu noivo Don Armando Mendoza. Que vivam felizes por muitos e muitos anos.

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domingo, 29 de junho de 2014

Eu te amo, Betty


Naquela manhã, dispostos a resolver todos os preparativos do casamento, Armando e Beatriz saíram para a cidade e conse­guiram fazer tudo o que haviam planejado.

Ao voltar para casa, no final da tarde, Beatriz já usava um lindo anel de noivado com uma esmeralda, enquanto o noivo trazia o par da alianças numa caixinha, dentro do bolso. Para ela, tudo parecia um sonho; jamais pensara que um dia pudes­se ser tão feliz. A camaradagem entre os dois continuava a mes­ma, mas agora havia um brilho diferente nos olhos dele toda vez que a fitava: Armando a tratava como se fosse uma princesa.

Armando estacionou a caminhonete em frente à casa dela, desli­gou o motor e, virando-se, pousou o braço no encosto do ban­co. Durante algum tempo os dois permaneceram ali, em silêncio, limitando-se a fitar-se de modo intenso. Então, ele sussurrou:

— Eu te amo, Betty; sempre amei e sempre amarei.

— Eu também te amo — ela respondeu e o beijou com mui­ta ternura.

Mas uma batida na janela do carro os interrompeu. Era Júlia.

Beatriz abaixou o vidro:

— O que foi, mamãe?

— Como o que foi? Temos mil coisas para planejar, e vocês somem o dia inteiro! Venha, Beatriz, você tem de se arrumar!

— Arrumar para quê? — os dois perguntaram ao mesmo tempo.

— Ora, para o jantar de noivado que Roberto organizou para esta noite. É melhor você também ir para a sua casa para se trocar. Seu pai vai lhe contar tudo. Vamos, vamos!

— Eí, espere um minuto! — Armando exclamou. — Quero saber que história é essa; quem vem para o jantar? Por que não pos­so levar minha noiva pessoalmente?

Júlia suspirou:

— Armando, não seja teimoso. É só uma reunião de família, mas queremos fazer tudo certinho. Você não vai morrer se ficar uma ou duas horas longe da noiva. Agora, se me dão licença, vou entrar. Se não subir dentro de dez minutos, eu volto para buscá-la, Beatriz.

Assim que Júlia fechou a porta, Beatriz voltou-se para Armando:

— Eu não disse? Os dois não vão se conformar com um ca­samento simples e informal. Por outro lado, acho que devemos respeitar a vontade deles. Afinal, só se casa uma vez, não é?

— Ah, nunca se sabe! — respondeu Armando, com um sorriso maroto. — Venha, ela nos deu só mais dez minutos, e estamos perdendo tempo.

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sábado, 28 de junho de 2014

Pensei que fosse só colocar um terno

Armando engoliu em seco e respondeu:

— Beatriz Pinzón, eu a aceito como minha legítima espo­sa até que a morte nos separe. — E beijou-lhe os lábios suave­mente. — Para todo o sempre.

— Foi lindo — comentou Júlia. — Lembre-me de usar es­ta passagem num de meus livros, Beatriz. — Endireitando-se na cadeira, pousou as mãos sobre os joelhos e anunciou, após respirar fundo: — Agora, porém, temos de cuidar do lado prá­tico. Há muitas providências a serem tomadas: cerimônia, con­vites, bufe. Teremos de ir a Cartagena para comprar o vestido. Céus, nem sei por onde começar!

Aterrorizado, Armando voltou-se para Beatriz.

— Como assim? Pensei que fosse só colocar um terno para irmos ver o reverendo Turner e acenarmos tudo.

— Sinto muito, mas acho que a coisa não é tão simples, que­rido — Beatriz garantiu. — Para começar, precisamos dar entrada nos papéis.

— Bem isso eu sei, mas não é nada tão complicado. Você não vai querer uma daquelas festas de centenas de convidados e penetras que só aparecem para beber uísque escocês, não é?

— Não, não é isso que eu quero. Eu gostaria de um casa­mento bem simples, na nossa capela da fazenda, só para os ami­gos mais próximos e a família.

— Ainda bem. Mas isso não é demorado?

Agora que fizera o pedido e obtivera o sim de Beatriz, mal podia esperar para torná-la sua, de fato e de direito.

— Ei, esperem aí! — Júlia interrompeu. — Pensei que fos­sem pedir o meu palpite. Afinal fui eu que os aproximei e sou a mãe da noiva.

— Claro que a senhora pode ajudar, mamãe, mas tanto eu quanto Armando não queremos um casamento muito demorado. Queremos uma coisa mais simples e íntima.

— Mas você vai entrar de branco, não é?

— Vou, sim. E espero que a senhora me ajude a escolher um vestido branco tradicional, mas simples.

— Não se preocupe, Júlia — garantiu Armando. — Betty ainda tem todo o direito a usar branco, apesar de tudo.

— Eu acredito em você, meu rapaz... — ela afirmou, já pen­sando em como organizar uma grande festa sem que os noivos percebessem. — Agora, por favor, vista a camisa, sim? E, se nos der licença, eu e Beatriz precisamos começar a cuidar dos detalhes. Pode voltar à noite para visitar-nos, se quiser. Oh, Roberto vai ficar tão feliz!

— Tenho uma ideia melhor: Beatriz, vá se vestir para po­dermos ir agora mesmo conversar com o reverendo. Depois, é só cuidarmos dos papéis.
— Combinado, querido. Volto já!

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sexta-feira, 27 de junho de 2014

Sim, senhora

— Don Armando Mendoza! — Júlia exclamou, desfazendo a ma­gia do momento com sua voz aguda. — Agora já é demais, e não me venha com aquelas suas histórias. Já estou farta de vê-lo brincar com os sentimentos de minha filha, para não dizer outra coisa. É muita coragem sua ficar seminu dentro da mi­nha casa! Pois você me surpreende, Armando; pensei que fosse um homem honrado, digno. Desta vez passou dos limites! Exijo que se case com Beatriz.

Protegendo Beatriz com o próprio corpo, até que ela se recompusesse, ele concordou, submisso:

— Sim, senhora.

— Estou falando sério! Espere só até seu pai ficar sabendo. Ele não vai... O que foi que disse?

Armando sorriu, satisfeito:

— Disse que sim, senhora.

— Sim o quê?

— Sim, eu vou me casar com Beatriz. Isto é, se ela acei­tar o meu pedido. Aliás, com ela é que a senhora devia estar brava; fiz um pedido formal de casamento e, em vez de me responder, Betty começou a me beijar. O que eu podia fazer? Resistência tem limite.

Júlia levou uma das mãos ao peito e deixou-se afundar na cadeira:

— Oh, não posso acreditar!

— Sei que é difícil, mas o que acabo de dizer é a mais pura verdade. Ela brinca comigo e quer a todo custo fazer-me per­der a inocência...

— Ora, Armando, pare com essa brincadeira. Mamãe vai ficar preocupada — Betty o censurou, dando-lhe um beliscão à altura das costelas. — Agora diga a verdade.

— Já disse — ele repetiu, beijando-a. — Você ainda não me deu uma resposta, e isso é o mínimo que se pode esperar de uma garota educada.

Esquecendo-se de Júlia e do resto do mundo, Betty segurou-lhe o rosto entre as mãos e, olhando-o bem fixamente nos olhos, declarou de coração:

— Don Armando Mendoza, eu o aceito como meu legitimo esposo até que a morte nos separe.

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quinta-feira, 26 de junho de 2014

Porque a amo

Armando balançou a cabeça e abraçou-a com mais força.

— Você sabe muito bem o que eu quero, Betty. Sabe há muito mais tempo do que eu: quero-a só para mim. Agora e sempre, até que a morte nos separe.

— Oh, Armando — Beatriz murmurou, com os olhos rasos d'água, a fitá-lo com veneração. — Foi um pedido lindo.

— Mas você não acredita, não é?

— Não é isso. É que até agora não sei direito aonde você está querendo chegar — alegou, fazendo-se de ingênua.

— Diabos, Betty, preste atenção no que eu estou dizendo. Acabei de pedi-la em casamento, e você leva tudo na brincadeira!

— Acabou de quê?

— Acabei de pedi-la em casamento, Beatriz Pinzón. Será que fui bem claro, ou prefere que eu me explique melhor?

Beatriz sorriu, satisfeita. Aquele era o verdadeiro Don Armando Mendoza — o homem a quem amava, ao lado do qual dese­java passar o resto de seus dias. Mal o reconhecera ao vê-lo che­gar havia pouco, todo bem vestido e sério.

— Bem, a ideia parece interessante... — comentou, exultante, ao acariciar-lhe os pelinhos do peito.

— Ah, Betty, o que seria de mim sem você para alegrar minha vida? — E, segurando-lhe uma das mãos contra o peito, acrescentou: — Vamos, não me deixe em suspense. Você acei­ta o meu pedido, não é?

Ela pendeu a cabeça para um lado e brincou:

— Então é isso: você quer se casar comigo para poder rir de mim?

— Betty, você sabe muito bem que não foi isso que eu disse. Por que não facilita as coisas para mim? — E, como ela não se manifestasse, resolveu ceder: — Está bem: quero me casar com você, Beatriz Pinzón, porque a amo e não posso viver sem tê-la a meu lado. Está melhor assim?

— Mais ou menos. Quero saber quando foi que chegou à con­clusão de que me amava. Foi depois da minha transformação?

Era uma questão importante para ela, pois queria ser amada por suas qualidades, e não por causa da aparência.

Armando mostrou-se ofendido com a insinuação:

— Claro que não! Para ser franco, fiquei assustado com es­sas mudanças todas: as roupas sofisticadas, o penteado. Se quer mesmo saber, foi só ontem que cai em mim, ao vê-la no está­bulo, com aquela calça remendada, os cabelos presos. Você es­tava irresistível!

Beatriz não cabia em si mesma de tanta alegria: finalmen­te, depois de tantos anos, seu maior desejo se realizara. Armando a amava. Lançando-lhe os braços em torno do pescoço, ergueu o rosto e o beijou apaixonadamente.

Armando, por sua vez, retribuiu com a mesma intensidade de sen­timentos. Finalmente conseguira pedi-la em casamento, e, pelo visto, a resposta seria sim. Tomado por uma súbita onda de desejo, virou-a de frente para si, abriu-Ihe o robe e apertou-a contra o peito. Beatriz gemeu baixinho, deliciando-se com o contato íntimo da pele dele contra seus seios nus. Era o momento mais feliz de sua vida.

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quarta-feira, 25 de junho de 2014

Uma beleza diferente

Só então Beatriz caiu em si e percebeu o que estivera prestes a fazer.

— Eu... Bem só estava tentando trazer-lhe algum alívio e... — afirmou coradíssima. Superencabulada, Beatriz tentou levantar-se, mas ele a impediu.

— Você sempre diz que não se deve começar a provocar uma pessoa e desistir de repente da brincadeira. Pois desta vez foi você quem começou, e não vou deixar que desista no meio.

— Ouça, Armando, sinto muito se...

— Pois eu não sinto. — E como ela tentasse novamente escapar, ele a repreendeu: — Fique aí mesmo onde está; assim fica mais fácil eu dizer o que me trouxe aqui hoje.

De repente, a fisionomia dele tornou-se muito séria. Segurou-lhe o rosto com as duas mãos e fitou-a de modo intenso:

— Não sei como não percebi isso antes.

— Isso o que? — ela quis saber, com a voz trêmula.

— Quanto você é importante para mim — murmurou baixinho, acariciando-lhe o rosto com o dorso da mão.

A revelação deixou Beatriz arrepiada. Será que finalmente os céus haviam ouvido suas preces? Porém o bom senso falou mais alto, e ela se lembrou das outras vezes em que Armando fora carinhoso para, em seguida, despreza-la.

— Sempre fomos importantes um para o outro — disse, cautelosa.

Ele segurou-lhe as mãos com carinho e tornou a beijá-las, apertando-as de modo significativo.

— Sempre — garantiu. — Você é tão bonita, Betty; não sei por que levei tanto tempo para perceber.

— Você me achava feia? — ela disse, tentando aliviar a tensão. Seu coração batia tão forte que chegava a doer.

— Não seja boba. Sempre a achei bonita, mas agora a vejo com outros olhos, encontro uma beleza diferente, especial. Você está mais mulher.

— Muito obrigada — ela comentou, brincando.

— Betty, você sabe que eu falo sério.

— Sim, desculpe-me. É que fico sem ação quando você fala assim. Não sei o que quer de mim; tenho medo de que você torne a me desprezar.

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terça-feira, 24 de junho de 2014

Prender o fôlego

— Seu desejo é uma ordem.

Na faculdade, Beatriz tivera várias aulas de primeiros-socorros, o que era bastante útil, já que viviam afastados da cidade. Não que uma distensão muscular fosse caso de vida ou morte, mas ficava satisfeita em poder aliviar-lhe a dor.

— Desabotoe mais um — disse, ao perceber que a camisa lhe tolhia os movimentos.

Mais do que depressa, Armando desabotoou todos os botões re­manescentes e tirou a camisa, pondo-a sobre a mesa:

— Você não se incomoda, não é?

Um brilho estranho que havia nos olhos dele a deixou inse­gura. Porém Beatriz nada comentou.

— Claro que não — garantiu, dizendo a si mesma que o me­lhor era tratá-lo como se fosse uma pessoa qualquer.

Pena que seu coração não entendesse esse tipo de racionali­zação e continuasse a bater disparado. Por mais que se repri­misse, era impossível deixar de tratá-lo com um carinho todo especial.

Adorava sentir aquela pele macia sob os dedos. Num movi­mento suave e circular, massageava-lhe o pescoço e os ombros largos, fazendo-o gemer de alívio.

Armando, por sua vez, fechou os olhos e entregou-se àquele to­que mágico, mais sensual do que terapêutico. Totalmente en­tregue, abandonou-se àquele prazer intenso.

As mãos dela escorregaram para a frente e começaram a massagear-lhe o peito. Beatriz adorava enroscar os dedos na­queles pelinhos macios.

— Você é tão peludo que nem parece descender de índios — ela comentou, entretida com a massagem.

— É verdade...

Distraidamente, ela acariciou-lhe um dos mamilos. Tortura­do pelo prazer, mas temendo assustá-la, Armando manteve-se cal­mo, limitando-se a prender o fôlego.

Como pôde enganar-se tanto tempo, negando a si mesmo que a amava?

Armando chegara ali tão nervoso, ansioso, e agora, no entanto, graças a ela, esquecera-se até do motivo que o levara à casa de­la. Naquele momento, só desejava desfrutar daqueles instantes verdadeiramente mágicos em que o mundo parecia girar mais devagar.

Deixando-se levar pela intuição, Beatriz instintivamente permitiu que suas mãos deslizassem em direção à cintura dele. Seguindo a faixa de pelos sedosos que lhe cobriam o peito. No entanto, ao senti-la tocar-lhe a fivela do cinto, Armando segurou-lhe o pulso com força e, trazendo-a para si, sentou-a em seu colo.

— Você está entrando em território perigoso — disse-lhe sorrindo, e beijou-lhe as mãos.

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segunda-feira, 23 de junho de 2014

Armando a devorava com o olhar

— Entre. Aceita um café?

— Puxa, claro que aceito! Obrigado.

Na cozinha, Armando sentou-se à mesa e ficou observando-a apa­nhar duas xícaras no armário. Seus quadris moviam-se de modo sensual sob o robe apertado, que se amoldava com perfeição à curva dos seios. Mal podia conter o desejo de puxá-la para si e beijá-la, mas sabia que seria mais prudente fazer o pedido primeiro.

— Não sabia de que modo você ia me receber. Estava um bocado brava comigo da última vez que nos vimos — comen­tou, pondo o chapéu em cima da mesa.

Percebendo que Armando a devorava com o olhar, Beatriz sen­tiu o desejo crescer em seu íntimo, apesar da disposição de tratá-lo com a máxima indiferença possível. No entanto, não havia como ignorar a proximidade de um homem tão sensual quanto Armando. Só não conseguia entender o que ele viera fazer em sua casa àquela hora da manhã, vestido de modo tão elegante. Co­mo também não entendia aquele brilho intenso nos olhos dele; era como se a visse pela primeira vez. Talvez fosse melhor su­bir e trocar de roupa.

Depois de servir as xícaras, pediu licença para subir e vestir outra roupa.

— Não! — ele exclamou, mais do que depressa. — Gosto do modo como está vestida... Isto é, não precisa se incomodar por minha causa.

— Está bem — ela concordou, sentando-se do outro lado da mesa. — Quer comer alguma coisa?

— O quê? Ah, não, não! Obrigado — respondeu, perceben­do que ela estava ansiosa para saber do que se tratava.

Nervoso, abriu um botão da camisa, já arrependido de ter posto uma camisa nova, e engoliu em seco.

— Bem... você deve estar curiosa para saber o que eu vim fazer aqui.

Mesmo morta de curiosidade, ela disfarçou, após tomar um gole de café:

— Nem tanto. Você nunca precisou de um motivo especial para vir à minha casa.

Mas Armando não se deixou abater pela aparente falta de interes­se que ela demonstrava.

— Ah, mas isso era antes! Sabe como é, você disse que não queria mais me ver, me pediu que sumisse da sua frente e a deixasse em paz.

Satisfeita, Beatriz sorriu por trás da xícara.

— Eu já lhe disse isso outras vezes, e você nunca deixou de vir aqui. O que foi desta vez?

— Você ainda está chateada comigo?

— Não; já passou. Mas reconheça que passou dos limites, Armando. Estou farta de ser tratada como criança. Uma hora você me agrada, me beija, na outra me despreza. Podemos ser bons amigos, desde que me trate com respeito.

Agitado, ele se levantou e começou a andar de um lado para o outro.

— Mas quero muito mais do que a sua amizade — disse, vi­rando a cabeça para ver como ela reagia diante de suas palavras. Só que o pescoço doeu-lhe, e ele soltou um gemido.

— O que foi? Machucou o pescoço? — ela quis saber, sin­ceramente preocupada.

— Não foi nada. Deve ter sido uma distensão.

— Venha cá! — Ela puxou-o pelo braço, até fazê-lo sentar-se numa cadeira perto da janela. — Desabotoe mais um botão da camisa que eu lhe faço uma massagem.


domingo, 22 de junho de 2014

Para disfarçar seu fascínio

Uma hora depois, Armando já se encontrava parado à porta da casa de Beatriz. Só ao estacionar foi que percebeu que eram apenas oito horas da manhã. Então, indagou-se se não seria me­lhor voltar mais tarde a arriscar-se a tirá-la da cama.

Mas a ansiedade era tanta que resolveu ir em frente. Já que decidira fazer o pedido, o melhor seria agir o quanto antes.

Resoluto, bateu com força à porta e logo foi recebido por Beatriz. Sabia que devia dizer-lhe algo, mas ao vê-la trajando apenas um robe atoalhado ficou absolutamente pasmo e deixou que seus olhos passeassem por aquelas curvas perfeitas.

— Bom dia — ela falou, sentindo que enrubescia diante da­quele olhar. — Nossa, que elegância! Está planejando ir se en­contrar com o padre? — brincou, para disfarçar seu fascínio.

Beatriz dormira muito mal à noite, inconformada com o modo como o tratara na véspera, porém agora lá estava ele pa­rado à porta com a melhor roupa esporte. Sua vontade era pedir-lhe licença para ir se arrumar, mas algo na atitude de Armando a fez calar-se.

Armando balançou a cabeça e pigarreou. Será que ela desconfia­va por que viera?

— Ainda não — garantiu, feliz por sua voz ter soado firme. — Quem sabe mais tarde.

Beatriz ficou surpresa. Armando não era dado a freqüentar a igreja, nem sequer aos domingos; só algo muito grave o levaria a ir encontrar-se com o padre num dia de semana.

— Você vai mesmo ver o reverendo Turner? Para quê? Acon­teceu alguma coisa com Roberto? Ele não está bem?

— Não aconteceu nada, Betty. Será que preciso de um mo­tivo especial para vestir uma roupa um pouco melhor?

Armando sabia que estava sendo grosseiro e que deveria dar gra­ças a Deus por ela não ter lhe batido a poria na cara, mas por que Beatriz sempre tinha que se preocupar com todo mundo, menos com ele? Vinha para lhe dizer algo tão importante e nem assim conseguia fazê-la prestar atenção nele um minuto. Ela ficou aliviada por saber que Roberto estava bem, porém era evidente que algo o preocupava. Armando estava visivelmente ner­voso e agia de modo estranho.

— Desculpe-me. É que nunca o vejo bem vestido durante a semana e imaginei que algo inusitado tivesse acontecido.

— E aconteceu. Ou melhor, vai acontecer. E, então, vai me convidar para entrar ou não?

Observando-o com atenção, Beatriz notou que ele de fato estava um tanto pálido e parecia ansioso para conversar. Depois do que Armando lhe fizera na véspera, sua vontade era bater-Ihe a porta na cara, mas apesar de tudo ela o amava e sentira falta dele.

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sábado, 21 de junho de 2014

Disse apenas que era tarde demais

Piscando várias vezes, Armando despertou com uma terrível dor nas costas. Onde estava mesmo? Abrindo os olhos, viu o escri­tório iluminado pelo sol da manhã e recordou-se. Como não con­seguisse pegar no sono, descera para tomar um uísque a acabara dormindo na poltrona.

Endireitando-se, sentiu uma terrível dor de cabeça e massageou a nuca com vigor. Tivera um pesadelo terrível, onde Betty escapara-lhe dos braços e seguia ao lado de Mora pela estra­da que levava a Cartagena. Ao pedir-lhe que voltasse, ela balan­çou a cabeça e disse apenas que era tarde demais.

Agora estava mais determinado do que nunca a pedi-la em ca­samento. Não podia viver atormentado daquela forma. O único problema era conseguir fazê-la ouvi-lo, e acreditar que ele a amava.

Subiu a escada, entrou no banheiro e tomou um bom banho de imersão, para refazer-se da noite maldormida. Então, pôs uma calça jeans e olhou-se no espelho. Aquele não era o traje ideal para fazer um pedido de casamento, concluiu, e, pensan­do melhor, resolveu usar sua melhor calça de linho, camisa de cambraia e sapatos novos. Afinal, não era todo dia que se pe­dia uma garota em casamento.

sexta-feira, 20 de junho de 2014

Que a queria como esposa

Ao deixar a propriedade de Beatriz, Armando rumou para ca­sa e procurou ocupar-se com algo que lhe distraísse um pouco: tentou ver um filme na televisão, ler um bom livro, trabalhar na contabilidade. Porém, nada adiantou.

Cansado, deitou-se na enorme cama de casal da suíte que ocu­pava e rolou, insone, durante horas. Mentalmente, reviu diversas vezes a cena do estábulo, em que Beatriz, furiosa, o deixara falando sozinho. Doía-lhe saber que a magoara com uma brincadeira.

Lembrando-se da conversa que tivera com Roberto na noite an­terior, ficou ainda mais aborrecido. Júlia e Roberto vinham agindo de forma imperdoável, parecendo dois comerciantes. Seu pai já havia deixado bem claro que queria vê-lo produzindo netos o quanto antes e de preferência com Betty, mas aquilo já era demais.

O que mais o impressionara, porém, fora a última frase de Roberto alertando-o para o fato de que não suportaria perdê-la.

A ideia não lhe saía da mente, e Armando perguntava-se inúme­ras vezes como seria a vida sem Beatriz por perto. Se um dos dois se casasse com outra pessoa, a bonita amizade que os unia ficaria abalada. Qualquer outro rapaz com quem ela se casasse a levaria para morar na cidade, e Armando com certeza só a encon­traria uma ou duas vezes por ano.

Pensar que Beatriz um dia pertenceria a outro homem o deixava aflito.

Casar-se com ela significava perder a liberdade, mas que li­berdade era aquela que o obrigava a trabalhar vinte horas por dia para tentar esquecê-la? No fundo, sempre soubera que a amava, porém só agora, na iminência de perdê-la, era capaz de en­carar a verdade de frente. Mas como chegar até ela e contar que a amava? Como confessar que a queria como esposa?

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quinta-feira, 19 de junho de 2014

Beatriz também se lembrava da camisa

Armando gostava de vê-la sorrir, apreciava-lhe o senso de humor, sempre presente. Tudo nela o agradava.

De súbito, seu coração começou a bater mais forte, e aquela onda de desejo, já tão familiar, aqueceu-lhe o sangue. Não importava o lugar ou o modo como estavam vestidos: a paixão que ela lhe despertava parecia cada vez mais forte.

Observando-lhe a cintura fina e exposta pela camisa amarra­da, sentiu a excitação crescer e procurou desviar o olhar.

— Esse jeans é aquele que você rasgou quando subiu numa árvore lá em Mendoza?

Beatriz virou-se e olhou para o remendo que colocara no lugar:

— Sim, é. Eu estava tentando apanhar o gatinho da Inezita, que tinha ficado preso numa árvore.

— Preso, não. Se bem me lembro, ele pulou na sua cabeça e alcançou o chão antes que você. E, se não fosse aquele galho para aparar a sua queda, você teria se machucado.

— Mas eu me machuquei.

— Só o seu orgulho ficou ferido.

— Minhas costas ficaram arranhadas.

— Por que você não me contou? Eu teria dado um beijinho, e o machucado estaria logo curado. Sempre fiz isso.

Lá estava ele novamente, tratando-a como criança.

— Vamos mudar de assunto, sim?

— Ora, por quê?! Lembro-me muito bem de ter me portado como um perfeito cavalheiro, emprestando-lhe minha camisa para você amarrar na cintura e voltar para casa.

Beatriz também se lembrava da camisa, que guardara sob o travesseiro durante várias noites, do cuidado que ele lhe dispensara até certificar-se de que não havia se machucado, de seu peito largo sob o sol... Pena que para Armando tudo não tivesse pas­sado de uma brincadeira.

— Eu disse para mudarmos de assunto, está bem?

— Betty, não fique aborrecida. Acho até que esse remen­do na calça ficou super... superinteressante...

Não adiantava: por mais que tentasse, não conseguia despertar um pouco de romantismo em Armando! Desanimada, Beatriz lar­gou o forcado e rumou para a porta.

— Obrigada pela ajuda, mas prefiro terminar mais tarde. So­zinha. Não gosto de bancar a palhaça. E veja se me deixa em paz, sim? Suma da minha frente!

Confuso, Armando a viu partir e balançou a cabeça. Teria dito alguma coisa errada? Por que Beatriz se ofendera com aquela brincadeira? Ficava cada vez mais difícil entendê-la...

Inconformado, terminou a tarefa e deixou o estábulo.

Horas mais tarde, quando Beatriz veio terminar o servi­ço, e encontrou tudo em perfeita ordem, sentou num monte de feno e pôs-se a chorar.

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quarta-feira, 18 de junho de 2014

Tanto tempo para descobrir essa verdade

No dia seguinte, Armando parecia sentir algo a impeli-lo a ir ver Beatriz. Tivera uma noite terrível, povoada de pesadelos, onde ela o abandonava. Desesperado, via-a desaparecer em meio a uma névoa intensa e, por mais que tentasse, não conseguia fazê-la voltar. Mas não era por esse motivo que desejava vê-la. Queria apenas certificar-se de que ela continuava lá; sua Betty.

Armando encontrou-a na cachoeira e, como estivesse trabalhan­do, ela não o viu entrar. Aliviado, Armando suspirou. Aquela, sim, era a sua Betty: usava uma calça jeans velha e uma blusa xadrez amarrada à cintura, e voltara a prender os cabelos numa trança única, embora agora fosse bem mais curta.

Aquela era a garota que fazia parte da vida dele, de seu pas­sado, a quem poderia confiar, e até arriscar, a própria vida. Betty estava linda! Não precisava de lodos aqueles artifícios da moda, de que se valia ultimamente. Embora a novidade fosse excitante, o que importava era a pessoa em si. E para ele não importava que roupa estava usando: Betty era a mulher mais linda do mundo. Curioso que tivesse levado tanto tempo para descobrir essa verdade.

— Já olhou bastante, ou quer uma fotografia? — Beatriz perguntou-Ihe, ao apoiar-se no forcado para enxugar o suor da testa.

— Se quiser me dar uma foto, eu agradeço — ele admitiu sorrindo, enquanto se aproximava. — O que está fazendo? Pen­sei que essa fosse tarefa de Fred.

— Às vezes é, mas eu lhe dei o dia de folga. Fred está fican­do velho e precisa diminuir o ritmo de trabalho.

Beatriz não mencionou o fato de ter dispensado o capa­taz porque sentia necessidade de se distrair, de se exaurir para que conseguisse pegar no sono, à noite. Só assim conseguiria deixar de pensar em Armando vinte e quatro horas por dia.

Armando fez menção de apanhar o forcado:

— Deixe que eu termino para você.

Mas ela deu um passo para trás.

— Não, não precisa, já estou quase acabando.

Sem uma palavra, Armando apanhou outro forcado e entrou no ultimo estábulo. Ambos trabalharam em silêncio por algum tem­po; então, Armando parou, puxou o chapéu para trás e enxugou a testa. E ficou observando-a trabalhar com afinco no estábulo ao lado, Ela ergueu o rosto e o surpreendeu:

— Você está me observando de novo.

— Não consigo evitar, Betty. É como se estes últimos tem­pos não tivessem existido, e tudo continuasse como antes. A não ser pela trança mais curta, você não mudou nada. É a primeira vez, desde a viagem para Cartagena, que me sinto realmen­te à vontade a seu lado. Não é estranho?

Para Beatriz aquilo bastava: ele preferia vê-la limpando o estábulo de que abrilhantando sua festa!

— É assim como um sapato velho, não é? Não é muito bo­nito, mas é confortável.

— Ei, espere aí, não disse que você era feia. Na verdade, ado­ro ficar te observando.

— Acho que já é alguma coisa — ela comentou, descrente, ensaiando um sorriso.

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terça-feira, 17 de junho de 2014

Sentira tanto sua falta


A resposta de Armando foi bater a porta com força ao sair.

No entanto, as palavras do pai não lhe saiam dos pensamen­tos. E a imagem de Beatriz também não: exatamente como acontecia desde a última vez em que a vira. Daquele jeito, ia acabar enlouquecendo. Sabia que não a tratara com a devida consideração, que acabara magoando-a, mas não fizera nada propositadamente.

Há muito tempo que vinha lutando contra a ideia do casa­mento; talvez porque seu pai viesse tentando fazê-lo casar-se desde que saíra da faculdade. Mas será que era isso mesmo?

Betty era a primeira garota de quem seu pai realmente gos­tava e queria ter como nora, e frequentemente deixava bem claro a ele qual a sua missão na família; produzir herdeiros para perpetuar a tradição dos Mendoza. Armando estava consciente dis­so, aceitava a incumbência, mas não gostava de ser pressionado. Mas o que aquilo tinha a ver com o rumo que seus sentimen­tos por Beatriz haviam tomado? A saudade que sentia dela era muito forte. Nem mesmo durante os anos de faculdade, em que estiveram separados, sentira tanto sua falta. Sem dúvida, muita coisa havia mudado desde então.

Mesmo dedicando-se de corpo e alma ao trabalho, não con­seguia esquecê-la. Bastava descansar um minuto e recomeçava a pensar em Beatriz. Incrível como ultimamente, apesar de conhecê-la há tanto tempo, vinha descobrindo tanta coisa no­va a respeito dela. Nunca imaginou que ela pudesse ser tão sen­sual, que seu corpo reagisse daquela forma toda vez que a tinha nos braços. Sua vontade era ir vê-la, conversar com calma, en­tender as mudanças pelas quais ela tinha passado, mas temia que Beatriz não o entendesse.

A situação toda era muito confusa; não sabia mais o que pen­sar. Ela vinha agindo de modo tão diferente ultimamente, mas, para ser franco, sentia falta da antiga Betty, amiga de infân­cia com quem podia conversar sobre qualquer assunto, abrir-se sem nenhum constrangimento. Mas, por outro lado, havia o encantamento desse novo lado da personalidade dela que co­meçava a desabrochar...


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segunda-feira, 16 de junho de 2014

Como seria viver sem Beatriz por perto


Roberto balançou a cabeça, desanimado:

— Eu preferia que você não falasse assim, meu filho. Não é nada disso; você faz a situação parecer imoral, baixa. Não é assim.

— Mas, acho que peguei o sentido geral da situação, não?

Roberto encolheu os ombros e suspirou, aborrecido:

— Mais ou menos. Mas nenhum de nós dois teria concorda­do com isso, se não soubéssemos quanto você e Beatriz se querem bem. E você não pode culpar Júlia, meu filho; ela só está tentando fazer o melhor pela filha. Se vocês dois se casa­rem, ela dará a vocês a escritura das terras como presente de casamento.

Indignado, Armando ergueu-se e começou a andar de um lado para o outro do escritório:

— Sabe de uma coisa, Roberto? Eu estou pasmo. Uma coisa é você fazer pressão para que eu me case com Betty. Mas vo­cê e Júlia tentarem me subornar é bem diferente. Esta é uma decisão que só cabe a mim e Beatriz. Afinal, já somos adul­tos, e vocês deveriam se envergonhar de planejar nosso casa­mento sem o nosso consentimento. Mas o pior de tudo é o efeito que isso tem sobre Betty. Vocês agem como se ela fosse um fardo pesado do qual Júlia quisesse se desvencilhar de qual­quer forma, empurrando-o para o primeiro rapaz que apare­cer. É terrível! Qualquer rapaz se orgulharia de tê-la como esposa.

Roberto disfarçou um riso de satisfação.

— Está querendo me dizer que anda pensando em se casar com ela?

— Não foi isso que eu disse! Mas se um dia me casar com Betty, não será por causa de nenhum maldito pedaço de ter­ra! Vocês nos insultam com essa proposta!

E, pondo um fim no assunto, Armando caminhou em direção à porta. Porém, ao tocar o trinco, Roberto o chamou:

— É melhor você pensar bem sobre o assunto, filho. Júlia garante que se vocês dois não se casarem, ela vende as terras para Mora. Júlia diz que o rapaz é muito gentil, tem uma queda por Beatriz, e elas podem voltar para Cartagena com ele. Portanto, pense bem: se você não se incomoda em perder as terras, pense em como seria viver sem Beatriz por perto.

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domingo, 15 de junho de 2014

Creio que valeu a pena

O assunto começou a interessar, pois Armando estava ansioso por notícias de Beatriz.

— E daí?

— Como você sabe, aquele almofadinha está fazendo de tu­do para convencê-la a vender a propriedade para a firma na qual trabalha. Eles têm planos de transformá-la numa estação de esqui. Só que isso é totalmente contrário aos nossos planos: aquelas terras já pertenceram aos antigos Mendoza e não de­vem ser vendidas a nenhum estranho.

— Não estaríamos tendo este tipo de aborrecimento se você não tivesse vendido a propriedade a Hermes.

— É verdade, mas também jamais teríamos tido a oportuni­dade de conhecer Júlia e Beatriz; creio que valeu a pena. De qualquer forma, Júlia está disposta a nos entregar as ter­ras, mas eu e ela nos preocupamos com certas questões.

— Como assim?

— Betty é como uma filha para mim, só quero o melhor para ela. Em outras palavras: quero vê-la feliz. Júlia diz que a filha só se sente realmente bem aqui nas montanhas e tenho certeza de que você compreende isto muito bem: está no san­gue. O ar das montanhas enche nossos pulmões, o mistério re­nova nossas almas, e a terra nos alimenta em todos os sentidos. E embora não tenha nascido aqui, apegou-se demais à região e pensa como nós. Portanto o problema é: como conseguir que ela continue a morar aqui, o único lugar na Terra onde ela se sente bem?

— Não vejo problema nenhum — Armando respondeu tranquilamente, sem se deixar abalar pelas palavras do pai. — Por que tudo não continua como está? Por que essa agitação toda, agora? Será que Júlia está começando a se cansar da vida do campo e sente falta da vida da cidade grande, onde todos a reveren­ciam e vive cercada de gente grã-fina?

— Não é nada disso, e eu agradeceria se você falasse dela com mais respeito. Na verdade, Júlia acha que Beatriz não tem oportunidade de conhecer muitos rapazes da idade dela mo­rando na fazenda. A garota já tem vinte e dois anos e Júlia acha que já é hora de ela se casar e pensar em ter filhos.

— Ah, não! Outra vez essa conversa? — ele retrucou. — Não vá me dizer que Júlia concorda em nos devolver as terras da família desde que concorde em me casar com a filha dela? É isso?

Roberto balançou a cabeça, desanimado:

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sábado, 14 de junho de 2014

Ansioso por notícias de Beatriz.

Já eram quase onze da noite quando Armando chegou em casa, entrando pela porta da cozinha. Saíra logo cedo, pela manhã, e nem voltara para almoçar; comera junto com os empregados da fazenda. Estava exausto, imundo e tudo o que mais queria era um banho bem quente antes de ir para cama.

Porém, ao cruzar o corredor em direção à escada, seu pai o chamou:

— Armando, pode vir até aqui um minuto? — O tom delicado de Roberto o deixou desconfiado.

Cauteloso, surgiu à porta do escritório, encostou no batente e observou o pai sentado com os pés sobre a escrivaninha.

— Dá para esperar até eu tomar um banho?

— Não; tenho certeza de que você não vai voltar. E do jeito como vem trabalhando ultimamente não sei se terei outra chance de encontrá-lo. — Erguendo-se da cadeira, foi até o bar, serviu duas doses de uísque e, entregando um copo para o filho, apon­tou para uma das poltronas de couro: — Sente-se.

Preferindo não discutir, sentou-se na poltrona e jogou uma perna sobre o braço estofado.

— Muito bem. O que há de tão importante?

— Você tem trabalhado demais!

Armando tomou um gole de uísque e abanou a cabeça.

— Há muito serviço nesta época do ano, você sabe, Roberto

— Sim, eu sei, é por isso que pegamos mão-de-obra extra. Se há poucos empregados, contrate mais alguns.

— Não é tão simples assim; o orçamento anda meio apertado.

— Mas não precisa se matar. Você quer ter tudo sob seu controle, estar em todos os lugares ao mesmo tempo. É para isso que temos empregados competentes.

Armando não respondeu, limitando-se a tirar as botas.

— E não pense que vou me calar só porque você finge não estar ouvindo.

As palavras do pai acabaram por fazê-lo rir:

— Está bem, meu velho. Já que não vou sair enquanto você não tiver terminado, vá direto ao assunto antes que eu comece a cochilar.

— Bem, a verdade é que eu e Júlia temos passado bastante tempo juntos ultimamente.

O assunto começou a interessar, pois Armando estava ansioso por notícias de Beatriz.


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sexta-feira, 13 de junho de 2014

Será que nada daquilo tinha significado para ele?

Dias depois, Beatriz ainda pensava na discussão que teve com Armando à beira do lago. Por certo, destruíra toda e qualquer chance de ele querê-la como esposa. Porém, mesmo assim, não se arrependia de tudo o que dissera. Estava farta de vê-lo tratá-la com paixão num momento para, em seguida, desprezá-la co­mo se fosse um sapato velho. Podia perfeitamente passar sem ele. A relação teria de ser de igual para igual, ou nada feito.

E, ao que tudo indicava, nada feito entre os dois.

No entanto, recordou-se da paixão que haviam despertado um no outro. Será que nada daquilo tinha significado para ele? Fechando os olhos, lembrou-se das sensações que seu beijo des­pertara nela, das palavras carinhosas que Armando lhe sussurrara aos ouvidos, dizendo quanto o achava diferente nos últimos tempos.

E era aí que estava a questão; Armando estava atraído por ela; exatamente pelo fato de Beatriz estar diferente, por ter mu­dado, por não ser mais a mesma. Será que era isso o que ela queria? Se Armando não a amava por suas qualidades, que lhe im­portava saber sua opinião sobre o novo visual? Era como se repelisse consigo mesma: a velha Betty contra a nova Betty.

A ideia a confundia. O fato de ele estar atraído por ela, só agora depois das transformações, explicava por que vinha tratando-a daquela forma, contraditória. Armando desejava a nova Betty, mas, ao mesmo tempo, não podia se esquecer de que, intimamente, ela continuava a mesma Betty de antes, dos tem­pos de infância. Pois se era assim, que fosse para o inferno. Gostava de sua nova imagem, mais feminina e sofisticada e, se a mudança o desagradava... problema dele!

Resoluta, vestiu uma velha calça jeans, fez uma trança no cabelo e saiu, disposta a respirar um pouco de ar fresco.


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quinta-feira, 12 de junho de 2014

Mas acho que tenho inveja.

Os dois permaneceram imóveis, colados ao chão, vendo-a de­saparecer pela trilha de terra.

— Você viu só? — disse Armando.

— Pois você merecia! — Mário garantiu, sem pena. — Aliás, vem pedindo por isso há tempos. Espero que lhe sirva de lição.

Do que Armando menos precisava naquele momento era de al­guém que o censurasse. Mário era um bom amigo, mas sabia ser bem inconveniente quando queria.

— Ouça, o que acontece entre mim e Betty não é da sua conta — Armando afirmou, sentindo o ódio crescer dentro de si.

Mário, imperturbável, limitava-se a balançar a cabeça.

— Engana-se, meu velho. Vocês dois são meus amigos, e o que acontece com vocês me interessa muito. Só que neste caso acho que está sendo injusto para com Beatriz e não vou fi­car de braços cruzados enquanto você tira proveito dela.

— Mário, eu...

— E acho melhor você se acalmar. Betty não ia gostar de nos ver brigar por causa dela.

Apesar de contrariado, Armando teve de admitir que o amigo ti­nha toda a razão. O que ele disse tinha sentido e, aos poucos, seu ódio foi cedendo.

— Mário... não sei o que está havendo comigo. Estou sem­pre disposto a brigar com o primeiro que aparece. O que será?

Mário riu e abraçou o amigo:

— Não se preocupe, isso passa, meu velho. E já que não va­mos mais brigar, o que me diz de irmos infernizar a vida do tal Mora?

Armando sorriu diante da tentativa de Mário de animá-lo, mas abanou a cabeça:

— Não, não acho que seja uma boa ideia. Betty pode ficar brava comigo. Ela fala como se me odiasse. Será verdade, Mário?

O outro deu-lhe um tapinha amigo nas costas:



— Seu bobo. Eu devia ter pena de você, mas acho que te­nho inveja.


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quarta-feira, 11 de junho de 2014

Eu não estava tentando escapar

Armando levantou-se vagarosamente.

— Ouça aqui, seu irlandês linguarudo, desde quando você pensa que...

— Vocês dois, parem com isso! — Beatriz gritou. — Não suporto vê-los agindo como dois garotos de colégio. — E, voltando-se para Mário: — Mário, está tudo bem. Comecei a provocar Armando e acho que passei do limite. Além disso, eu não estava tentando escapar.

Em seguida, voltou-se para Armando, furiosa:

— Quanto a você, gostaria que de agora em diante me dei­xasse em paz. Sempre nos mete nestas situações embaraçosas e, depois, quando somos surpreendidos, é o primeiro a cair fora, tratando-me como se eu fosse... um objeto. Pois já estou farta.

— Betty...

— Não quer se casar comigo? Tudo bem. Que eu saiba, nunca o pedi em casamento, nem pretendo fazê-Io no futuro! Portan­to, pare de bancar a vítima; como se eu o estivesse forçando a fazer algo que não deseja. Por acaso acha que eu me casaria com um homem que, em vez de me apoiar e defender, sempre me deixa em má situação? Se pensa, está muito enganado. De uma vez por todas: não estou interessada em você, Don Armando Mendoza!

Enxugando o rosto com as mãos trêmulas, ela correu para o cavalo, montou e saiu cavalgando.


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terça-feira, 10 de junho de 2014

Está insinuando que é melhor do que eu?

— Oh, Betty, você é tão bonita, tem um perfume tão gos­toso — murmurou com a voz rouca de desejo. Era impossível raciocinar naquele instante. — Você anda tão diferente ultimamente, vive me atormentando, me provocando. Desse jeito, vai me enlouquecer.

— Bem — interrompeu uma voz grave, com forte sotaque irlandês. — Para um rapaz que jura não estar interessado por ela, você tem agido de modo meio... avançadinho. — O tom era de censura. — Acho melhor soltá-la, Armando, antes que eu to­me uma atitude mais drástica, Betty parece não estar gostan­do de ser beijada à força.

Atordoado, Armando sentou-se, enquanto se afastava de Beatriz.

— De que você está falando? — perguntou, indignado.

— Bem, qualquer cretino sabe do que estou falando. Beatriz é uma garota de família, e a melhor amiga que alguém poderia ter. Não quero que lhe falte ao respeito.

— Ora, por favor. Não me diga que você entrou no jogo de Roberto e Júlia. Por que todos estão me forçando a casar com ela?

O brilho amigável que sempre iluminava o olhar de Mário desapareceu, e seus olhos tornaram-se gélidos.

— Deixe-me fora disso, sim? Particularmente, acho que Betty merece coisa melhor do que você. E, se não deixá-la em paz, vamos ter de resolver este assunto na marra.

— Por mim, tudo bem. É só me avisar quando estiver pron­to — Armando respondeu, confuso. Num momento, ele e Beatriz se beijavam com paixão; noutro, Mário os interrompia, acusando-o de abusar dela.

— E o que quer dizer com "Betty merece coisa melhor"? Por acaso está insinuando que é melhor do que eu?

— Muito melhor — Mário garantiu, sem vacilar. — Mas Betty é muito especial e merece o melhor. Confesso que che­guei a pensar que você fosse o rapaz ideal para ela, mas, em face dos últimos acontecimentos, mudei de ideia.

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segunda-feira, 9 de junho de 2014

Embora sua intenção fosse beijá-la com ardor

Esticando o braço, ele pegou uma mecha dos cabelos de Beatriz e enrolou-a várias vezes no dedo, com um sorriso que a fez sentir-se nas nuvens.

— Então, você não tem interesse nenhum em mim, não é? — perguntou, indagando-se por que voltava a tocar no assunto.

Devia mudar o rumo da conversa para evitar outra discus­são, mas algo na declaração dela o irritara.

— Não foi isso que eu disse, Armando. Somos amigos há muito tempo, e é claro que me interesso por você. Sempre vou me im­portar e me preocupar com seu bem-estar.

Todo o cuidado era pouco para não pôr tudo a perder. Não podia espantá-lo, revelando-lhe o maior sonho que tinha.

— Mas não é um interesse romântico — ele insistiu.

— Ah, não sei... — afirmou, sorrindo, lançando-lhe um olhar lânguido por entre os cílios muito longos. — Você sabe beijar bem e, se tenho melhorado, é graças aos seus ensinamentos. Te­nho certeza de que meu marido, um dia, vai lhe agradecer. Talvez queira até lhe agradecer pessoalmente.

Armando sabia que aquilo era pura provocação; mesmo assim, ficou furioso. Por que ela ficava toda hora falando num possí­vel futuro marido?

— Neste caso, acho melhor prosseguir com o curso — disse e, segurando-a pelo ombro, deitou-a de novo sobre o cobertor. Com o torso inclinado sobre o dela, prendeu-lhe os braços aci­ma da cabeça e, por um bom tempo, limitou-se a fitá-la de mo­do intenso e significativo. — Ah, Betty, você parte meu coração.

E, embora sua intenção fosse beijá-la com ardor, castigando-a por tê-lo provocado além dos limites, quando seus lábios toca­ram os dela, beijou-a com imensa ternura. E, ao perceber que Beatriz reagiu com avidez, pôs a cautela de lado e a beijou apaixonadamente.

Beatriz suspirou diante da avidez daquele beijo, e Armando aproveitou a oportunidade para introduzir-lhe a língua na bo­ca. A princípio, ela se retraiu, mas em seguida descontraiu-se e desfrutou daquele beijo intenso.

Louca de desejo, sentiu quando Armando afastou-se ligeiramen­te para deslizar os lábios pela pele macia de seu rosto e pesco­ço. Então percebeu que as mãos dele lutavam contra os botões de sua blusa e remexeu-se, tentando sair daquela posição. Não porque quisesse que ele parasse de acariciá-la, mas porque pre­tendia também tocar-lhe o peito largo e peludo.

Armando, então, pôs uma das pernas sobre as dela procurando imobilizá-la. Não podia deixá-la escapar. Não agora!

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domingo, 8 de junho de 2014

Lembrava-se perfeitamente de como todo o corpo dela reagira

Excitado, Armando engoliu em seco e procurou disfarçar como pôde:

— Betty, por que não deixamos este assunto de lado? Sin­to muito se a magoei ou a fiz sentir-se insultada; não foi minha intenção. É que, por enquanto, não penso em me casar. Mas, se fosse o caso, você seria a primeira da lista.

— Puxa, minha cotação melhorou bastante — ela murmurou.

— O que disse?

— Disse muito obrigada — mentiu. — Mas acho que está sendo um pouco presunçoso. Quem lhe disse que-eu gostaria de ser a sra. Mendoza?

— Quer dizer que o fato de ter me beijado daquela forma não é sinal de que está interessada em mim? — perguntou, em tom de provocação.

Mas ela deu de ombros e o fez provar do próprio veneno:

— O que há de tão importante num beijo? As pessoas se bei­jam toda hora; isso não quer dizer nada. Foi o que você disse a Roberto e Júlia, e concordo plenamente. Não entendo por que está fazendo tanto caso de uma coisa à toa.

— O mesmo vale para aquele dia em que estávamos aqui e você me beijou? Se não tinha interesse em mim, por que fez aquilo?

Armando não se esquecera daquele dia e esperava que ela tam­bém não esquecesse. Lembrava-se perfeitamente de como todo o corpo dela reagira e de quanto ela o surpreendera com aque­la atitude. Ela o beijara e, de repente, tudo entre os dois se mo­dificou. Até a sua costumeira autoconfiança ficou abalada.

Desde aquele dia, nunca mais voltara a ser o mesmo Don Armando Mendoza, durão, insensível, arrogante. Se ela pretendia provar-lhe a qualquer custo que já era uma mulher adulta, atingira plenamente seu objetivo.

Beatriz sorriu, com ares de superioridade.

— Eu explico o que houve: estava farta de ser tratada como uma garotinha boboca e infantil, mas reconheço que foi uma tentativa bastante amadorística. Sinto muito se lhe dei a impressão errada.

Armando riu.

— Creia-me: não havia nada de amadorístico naquele beijo e, desde então, você tem progredido muito.

Ela sorriu, intimamente satisfeita.

— Ora, Armando, muito obrigada! Vindo de você, que é um expert em mulheres, é um elogio.

— Beatriz, por que você insiste em afirmar que sou um mulherengo? Sou apenas um rapaz solteiro que... que...

— Aproveita todas as oportunidades que surgem? — ela sugeriu.

— Você fala como se isso fosse um crime. E não é bem as­sim. Tenho meus critérios.

— Tudo bem.

— Betty, pare de concordar comigo.

— Pensei que você gostasse. Ultimamente você tem reclamado que eu ando cheia de opiniões próprias.

— Bem, talvez você tenha razão.

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sábado, 7 de junho de 2014

Disfarçar como pôde

Ele a fez erguer o rosto e percebeu que seus óculos prediletos estavam molhados. Com muito carinho, enxugou-lhe o rosto, beijou-lhe a testa e disse:

— E então? Está melhor?

Vê-la chorar partia-lhe o coração. Beatriz nunca fora de chorar com facilidade, nem quando criança.

— Que droga! Não precisa ser bonzinho comigo — ela revidou, num tom decisivo. — Não gosto disso, fico totalmente sem ação. Prefiro quando me rejeita; já estou acostumada às suas grosserias.

Armando afastou-se um pouco e a fitou para se certificar de que ela falava sério. E, de fato, a fisionomia não era de quem brincava.

— De que você está falando? Nunca a rejeitei nem fui grosseiro com você.

Beatriz afastou-se dele e sentou-se.

— Mas é esta a impressão que tenho tido ultimamente.

— Neste caso, acho que está havendo um engano da sua parte, porque nunca quis lhe dar essa impressão.

— Ah, é? E o que me diz, então, da noite passada? Primeiro, você começou a me beijar como se eu fosse a garota mais importante do mundo; de repente, quando Roberto e mamãe chegaram, começou a me tratar como se eu tivesse uma doença contagiosa. Como acha que me senti?

Caindo em si, Armando sentiu-se envergonhado. Na hora, ficara tão surpreso com a chegada dos dois que nem sequer pensara na impressão que sua atitude causaria em Beatriz.

— Olhe, Betty, sinto muito não ter levado em conta seus sentimentos naquele momento, mas não tive intenção de magoá-la. Acredite em mim. É que as pessoas parecem não entender que ainda não me sinto preparado para o casamento.

— Eu particularmente acho que você já deixou mais do que claro seu ponto de vista — ela respondeu, erguendo as sobrancelhas. — Aliás, nunca o vi defender algo com tanto entusiasmo.

Calado, Armando tirou o chapéu, colocou-o no chão a seu lado e correu os dedos pelos cabelos. Geralmente Beatriz nunca o provocava ou o colocava em situação difícil, mas nos últimos tempos vivia lhe fazendo perguntas e acusações difíceis de responder. Principalmente agora que se transformara numa garota tão sexy.

Na pressa de abotoar de novo a camisa, ela se esquecera de um botão, à altura do peito, que deixava entrever as curvas sua­ves de seus seios fartos. Beatriz definitivamente não tinha mais nada de criança.

Excitado, Armando engoliu em seco e procurou disfarçar como pôde:

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sexta-feira, 6 de junho de 2014

Vazão ao desejo reprimido

Como poderia discutir com ele por causa de algo que, no ín­timo, apreciara? Além disso, julgava-se em parte culpada pelo que acontecera. Ambos estavam dormindo, mas tinham, no sub­consciente, dado vazão ao desejo reprimido.

— Vamos esquecer o que houve — disse, abraçando os joe­lhos e olhando para um ponto qualquer no horizonte.

— Esquecer? Mas você disse que eu a desrespeitei. Com cer­teza, não vai querer que algo tão grave caia no esquecimento — ele provocou, estirando-se preguiçosamente sobre o cobertor.

Surpresa, Beatriz sentiu os olhos encherem-se de lágrimas.

— Para você é tudo muito engraçado, não é? — acusou-o. — Pois para mim não tem graça nenhuma.

— Ei, Betty, espere aí — ele consolou-a, aproximando-se.

— Desculpe-me, não quis magoá-la. Sabe que eu jamais faria qualquer coisa que a deixasse triste. — Então, tornou a deitar-se, aconchegando-a nos braços. O calor que emanava do corpo de Beatriz trouxe-lhe à mente lembranças do sonho lindo que tivera há pouco.

Seus corpos se encaixavam perfeitamente como se fossem duas metades de um todo. Era incrível como em todos aqueles anos de amizade nunca se sentira atraído por ela.



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quinta-feira, 5 de junho de 2014

Era superfeminina e correspondia com desenvoltura

O vento frio e forte soprava das montanhas nevadas. Beatriz, sonolenta e arrepiada, ajeitou-se melhor, em busca de ca­lor. Satisfeita com a posição que arranjara, suspirou e tornou a dormir.

Então, sonhou que estava casada com Armando e que ambos dor­miam numa enorme cama de casal, na fazenda dele. Os dois dormiam de lado, ele atrás dela, um braço solto sobre sua cin­tura enquanto a mão acariciava-lhe suavemente um seio. Beatriz sorriu e aconchegou-se mais contra ele. Jamais imaginara que iria sentir-se tão feliz casada com Armando. Claro que esperava encontrar o desejo e a paixão que sempre a exci­tavam quando o via, mas, ali, em seus braços, desfrutava de uma sensação diferente, tranqüila, um prazer imenso por estar junto ao amado.

A mão de Armando deslizou para dentro da blusa dela, e Beatriz suspirou, satisfeita. Blusa? Por que estava usando uma blusa para dormir? Então, sentiu a blusa em questão sendo puxada para fora de sua calça jeans. Jeans? Havia alguma coisa errada...

Numa fração de segundo, seus olhos se abriram. Afinal, o que estava havendo? Sonhara com coisas tão bonitas, tão reais, que ainda podia sentir o peso do braço dele sobre si, o calor da mão em seu seio e...

— Meu Deus! — gritou ao sentar-se, assustadíssima, tentando se recompor.

— Hum? O que foi? — Armando perguntou, sonolento.

— O que foi? Você não sabe? — ela redarguiu, enrubesci­da. — Você estava me desrespeitando enquanto eu dormia.

Só então ele despertou de fato.

— Desrespeitando? Eu nunca fiz isso!

— Olhe aqui, não sou nenhuma boba. Era exatamente o que você fazia quando acordei. Deitei aqui para descansar um pouco e acordei com sua mão dentro da minha blusa — explicou, omitindo o fato de ter pensado que tudo não passava de um sonho maravilhoso.

— Eu? Ouça, deve ter havido um mal-entendido. Eu dor­mia feito uma pedra quando você começou a gritar. Deve ter sido um sonho — garantiu, omitindo o fato de ter sonhado com ela enquanto dormia.

Porém, no sonho, Beatriz era superfeminina e correspon­dia com desenvoltura aos carinhos dele. Pena que, naquele mo­mento, na realidade, agisse como uma donzela ultrajada.

— Talvez eu estivesse mesmo sonhando — ela admitiu. — Mas sua mão dentro da minha blusa era bem real. Você esta­va... estava...

Armando começava a se divertir com a situação.

— Estava o quê? Pelo jeito, deve ser algo bem interessante, meu bem.

Beatriz sentiu o rosto arder e exclamou:

— Ora, você é impossível!


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quarta-feira, 4 de junho de 2014

Sem desviar os olhos de Armando

Os três se deliciaram com o lanche. Sossegado, Armando estirou as pernas e puxou o chapéu sobre o rosto.

— Se vocês não se incomodam, ou mesmo que se incomo­dem, vou tirar um cochilo. Dormi muito mal à noite passada.

— Ótimo — concordou Mário. — Enquanto isso, vou tentar convencer Betty a vir mergulhar nua comigo antes de irmos pescar.

Se a intenção de Mário era provocar Armando, seu propósito foi totalmente frustrado. Armando sabia que as águas do lago na­quela época estavam geladíssimas.

— Se querem morrer congelados, acho que devem ir em frente!

— É... você tem razão... Nós iríamos morrer congelados — disse Mário, apanhando a vara de pescar presa na sela. — Vou andar um pouco para arrumar um lugar melhor para pescar. Com alguma sorte, quem sabe consiga apanhar uma truta. Aliás, é a especialidade de Inezita.

— Quer dizer que não estou convidada?

— Lógico que não. Adoro sua companhia, querida, mas não consigo me concentrar em mais nada quando estamos juntos.

— Mas, e se eu prometer ficar calada?

— Pior ainda. Só de olhá-la, já fico desnorteado. — E se afastou.

Na verdade Beatriz mal via a hora de deitar-se e tirar um bom cochilo. Fora por esse motivo, em primeiro lugar, que trou­xera um cobertor na sela. Achara que os dois iriam preferir pescar e a deixariam em paz para descansar, mas nada saíra como planejara, e lá estava Armando, deitado na relva, enrolado no co­bertor dela.

Sonolenta, abafou um bocejo incontrolável. As três latas de cerveja restantes tinham sido mergulhadas na água para se man­terem geladas. E já que não pretendia pescar não lhe restava outra alternativa a não ser dormir.

Tornando a olhar em direção a Armando, notou que havia espa­ço de sobra para ela no cobertor, uma vez que ele rolara de la­do. E, pelo modo como roncava, não havia dúvidas de que dormia um sono profundo.

Decidida, sentou-se com muito cuidado e, sem desviar os olhos de Armando, deitou-se sobre o cobertor. Usando o braço como travesseiro, suspirou feliz e logo pegou no sono.

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terça-feira, 3 de junho de 2014

Não conseguiria viver em nenhum outro lugar

— O nome dele é Nicolás Mora, Armando — corrigiu-o. — E acho que ele deve estar visitando alguma outra propriedade por aí. Afinal, Nicolás não está de ferias.

— Isso quer dizer que Júlia desistiu de vender a fazenda? — Armando quis saber.

— Não sei. Já tentei conversar com ela sobre esse assunto, mas minha mãe sempre escapa. Já lhe disse a minha opinião a respeito disso, mas ela acha que nunca vou conseguir um marido morando aqui neste fim de mundo. — E deu de ombros. — Roberto foi visitá-la hoje, e os dois ficaram conversando no es­critório por mais de uma hora. Ele é o único capaz de fazê-la mudar de ideia.

— Bem, caso não consiga fazê-la mudar de ideia quanto á venda, pelo menos pode convencê-la a vender para nós, em vez de Dora. Aliás, a fazenda fazia parte da propriedade origi­nal dos Mendoza, mas papai acabou amolecando e vendeu aquela parte para Hermes. Acho bastante justo que Júlia nos dê a preferência.

— Pois espero que ela não venda as terras para ninguém. Não conseguiria viver em nenhum outro lugar.

— Nem eu. Detestaria ver nossas terras nas mãos de es­tranhos.

Beatriz estudou-lhe a fisionomia, por algum tempo e co­mentou:

— Você fala como se reprovasse o fato de Roberto ter vendido uma parte para Hermes. Pois saiba que essa parte das terras não lhe pertence mais, Armando.

Como Armando não respondesse, Beatriz prosseguiu:

— Talvez, se nada disso tivesse acontecido, eu jamais tives­se vindo morar aqui para azucriná-lo, não é?

Armando olhou-a, assustado.

— Não seja ridícula.

— Eu não sou ridícula.


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segunda-feira, 2 de junho de 2014

Seu marido vai ser um sujeito de sorte

Ao pegar a lata das mãos de Armando, Beatriz sorriu por cau­sa da provocação. Por um momento, seus olhares se cruzaram, e ela viu muito mais do que uma expressão divertida naqueles lindos olhos negros. Havia algo mais intenso, difícil de expli­car. Mas um ligeiro pigarrear de Mário quebrou aquela magia.

Ela então sorriu e tomou um gole.

— Ora, tomar cerveja não é nenhuma façanha, Armando. É uma das primeiras coisas que se aprendem ao entrar no segundo grau.

— Para ser franco, foi a segunda coisa que aprendi.

Beatriz sentiu que enrubescia e ficou furiosa. Era uma rea­ção natural dela, incontrolável, mas que muito a incomodava.

— Betty, por acaso não a vi colocar uns picles no lanche? — Mário quis saber. — Eu adoro picles.

Mentalmente, ela agradeceu a ele pela interrupção. Mais al­guns segundos, e acabaria se atirando nos braços de Armando, o que, afinal, não estava em seus planos.

— Claro, aqui está.

— Você é um amor de garota. Seu marido vai ser um sujeito de sorte.

Armando ouvia a tudo calado. Detestava vê-la servir o amigo com tanta presteza. Então, resolveu opinar:

— Você tem personalidade; não é como essas que concor­dam com tudo o que o marido fala.

— Tem toda razão — respondeu Mário, pensativo. — Aliás, jamais me casaria com uma garota boboca, sem opinião pró­pria. E você, Armando, que tipo de garota prefere?

— As de personalidade marcante.

— Alguém assim como Betty?

— Exatamente! — exclamou, entusiasmado. Porém, ao ver a expressão radiante de Betty, recriminou-se por ter se exaltado.

Não esperava que ela tomasse suas palavras como um comen­tário pessoal. Então, achou por bem mudar o rumo da conversa:

— Tivemos sorte em despistar Dinorah Dora esta tarde, não? Pensei que ele fosse se meter onde não fora chamado.

Mário caiu na gargalhada:

— Tem razão, teria sido péssimo se ele tivesse vindo, não é?

A ironia do amigo atingiu Armando em cheio. Sabia que Mário se referia à sua aparição sem convite.

Beatriz percebeu a intenção de Mário e ficou satisfeita, mas preferiu não pressionar Armando. Naquele momento, alegrava-lhe saber que era o tipo de garota que o atraía, caso estivesse pensando em se casar.


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domingo, 1 de junho de 2014

O modo possessivo com que Mário a tocava


Beatriz desmontou e começou a desenrolar a esteira.

— Meu velho, suas palavras realmente tocaram o meu cora­ção — declarou, tentando brincar, embora falasse sério.

— Mais respeito, sim, garota? Fico magoado em saber que você não me leva a sério.

— É exatamente por levá-lo a sério que estou brincando. Só agora percebo como nossa amizade me é importante.

Mário também desmontou e, de pé ao lado dela, obrigou-a a fitá-lo:

— Tem razão, minha cara. Mas não se prenda ao passado, quando ainda temos todo um futuro pela frente. Só Deus sabe o que ele nos reserva.

Para Armando, aquilo já era demais. Apesar de se identificar com o que os dois falavam, sentia-se meio rejeitado, excluído do gru­po. Tampouco lhe agradava o modo possessivo com que Mário a tocava. Não gostava das promessas que ele lhe fazia.

Seria engano dele? Será que Mário não estava apenas brin­cando, divertindo-se em provocá-lo? Porém, e se ele estivesse realmente interessado em Betty? Torcia para que isso nunca acontecesse, mas era o tipo da coisa imprevisível.

Mas não: algo em seu íntimo lhe garantia que Beatriz e Mário não eram feitos um para o outro. Não, faria de tudo para impedir que Mário continuasse a avançar.

Então, vendo Mário prestes a beijar os lábios dela, inter­rompeu:

— Não sabia que você tinha deixado de escrever guias de pesca para escrever romances, Mário. Você e Júlia deviam se juntar e trocar ideias.

Mário balançou a cabeça:

— O fato de eu ser um rapaz romântico não quer dizer que tenha trocado de carreira. É o temperamento irlandês.

— Entendo.

— O dia está muito bonito, e não vou permitir que nada des­trua meu bom humor. Então, por que não deixa de bobagens e se diverte como nós dois?

Vendo Armando vacilar diante do convite, Beatriz desviou o assunto:

— Mário, você só escreve sobre pesca. Então, tire umas fé­rias e venha pescar — comentou, estendendo a esteira. — Não se cansa de fazer sempre a mesma coisa?

— Até agora, não — garantiu ele, pondo a mochila sobre a esteira. — Gosto de unir o útil ao agradável, a vocação e o lazer.

Beatriz estendeu uma toalha sobre a esteira e começou a tirar a comida da mochila.

— Acho que por enquanto isso é o ideal para você, mas e quando decidir se casar? Não acha que as viagens podem atra­palhar?

Mário sentou-se na beirada da esteira e cruzou as pernas.

— No momento não me preocupo muito com isso, mas acho que quando tiver minha família vou procurar levá-los comigo sempre que possível. Ou, como Armando bem sugeriu, largo os guias e começo a escrever romances.

Armando não gostava do interesse que Beatriz demonstrava pe­los planos do amigo e teve de se conter para não perder a pa­ciência. O melhor era não lhe dar motivos para considerá-lo um brutamontes. Tirando as cervejas da caixa, sentou-se ao lado de Beatriz.

— Imaginação é o que não lhe falta — disse, ao abrir uma lata para si. Então, quando já ia levá-la à boca, viu Mário desembrulhar um sanduíche e oferecê-lo a ela. Agiu imediatamente: — Tome, Betty! Você disse que aprendeu a gostar de cerveja, então mostre-nos.

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sábado, 31 de maio de 2014

Lembranças da infância


A companhia deles enriquecia suas lembranças da infância, e Beatriz sempre lhes seria grata pelo carinho com que a tra­tavam. Mesmo que visse frustrado seu amor por Armando, nunca deixaria de considerá-lo seu melhor amigo.

Engraçado... sempre compartilhara da mesma camaradagem com Mário e Armando, mas o primeiro nunca fizera seu coração bater mais forte. Armando era, de fato, mais bonito, mas Mário não ficava muito atrás. Quanto à personalidade, preferências à parte, era preciso admitir que Mário era muito mais aberto, falante, comunicativo. No entanto, nada disso importava: Armando era seu ideal masculino, e Betty se consideraria a mulher mais feliz do mundo se seu amor fosse correspondido.

Enquanto cavalgava, observou-lhe os ombros largos e musculosos, a cintura fina, as coxas grossas, o porte de cavaleiro nato. Achava-o lindo, sem dúvida, mas não era por esse moti­vo que o amava. Mesmo sem saber ao certo por que gostava tanto de Armando, não desistiria de conquistá-lo até o dia em que ele se casasse com outra garota. E, caso isso um dia realmente acontecesse, o melhor seria internar-se num convento, pois ja­mais amaria um outro homem daquela forma.

A trilha voltou a alargar-se, e os três tornaram a cavalgar la­do a lado. Detendo-se no cume de uma pequena elevação, ad­miraram a paisagem dos tempos de infância. Todos a olhavam com certa nostalgia, recordando-se de épocas passadas, mas Beatriz pensava em dias mais recentes, também.

Fora ali que, dias antes, Armando a beijara pela primeira vez. Ou melhor, que ela o beijara, para provar que já era bem adulta. Será que ele se lembrava? Sinceramente, desejava que não. Po­rém, ao olhá-lo de relance, percebeu que ele a observava e ti­nha um sorriso que falava mais do que mil palavras.

Desviando os olhos, Beatriz olhou para frente, e os três seguiram ao longo do pequeno riacho, ladeado por lindas árvores.

Mário suspirou e comentou:

— Ah!... Graças a Deus tudo continua como antes, do mes­mo jeito que eu guardei na lembrança. É bom saber que, apesar da loucura do mundo, ainda existe um lugar assim. E cá estamos nós, de novo. Talvez bastante modificados, mas ainda assim amigos. Quanto a vocês, não sei, mas isso me faz muito bem.


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sexta-feira, 30 de maio de 2014

Prometo que não vou reclamar.


Enquanto os rapazes bebiam cerveja, Beatriz sempre pre­ferira refrigerantes.

— Pensei em acompanhá-los na cerveja — ela informou.

— Você vai beber cerveja? — Armando perguntou, com um riso incrédulo.

— Não sei por que esse espanto — respondeu, jogando a mo­chila sobre os ombros. — Aprendi a gostar de cerveja. E não se preocupe com o fato de eu beber, pois não sou mais menor de idade.

E, pondo fim à conversa, apanhou a esteira que estava enro­lada sobre uma cadeira e rumou para a porta, sem esperar pe­los companheiros.

Armando tomou-lhe a esteira das mãos e perguntou, desconfiado:

— Para que você está levando esta esteira?

Abrindo a porta, ela sorriu por sobre os ombros:

— O que você acha? Por acaso pensa que vou tentar seduzir nosso colega?

Mário aproximou-se e tirou-lhe a mochila das costas, erguendo-a com facilidade. Então, abraçou Beatriz pela cin­tura e murmurou, num tom que Armando pudesse ouvir:

— Não se preocupe, meu bem. Podemos enrolá-lo na estei­ra e soltá-lo no lago. Aí você vai poder me seduzir à vontade. Prometo que não vou reclamar.

— Quanta generosidade! — Beatriz comentou, rindo, ao se soltar disfarçadamente daquele abraço. — Mas acho melhor não o eliminarmos por completo. Roberto pode ficar triste.

— Podem reclamar à vontade, mas eu não desisto de acompanhá-los. Para ser sincero, fiquei magoado por não ter sido logo convidado.

— Ah... coitadinho! — Beatriz brincou, abraçando-o pela cintura. — Não foi nossa intenção magoá-lo. É que da última vez que o vi você não estava de muito bom humor, pensei que estivesse zangado comigo.

Vê-la desfazer-se de Mário para vir abraçá-lo deixou-o superfeliz e, num gesto súbito de posse, passou-lhe um braço pe­los ombros e puxou-a para junto de si:

— Isso nunca, meu bem. Tomarei conta de você até o dia em que eu morrer.

Beatriz ficou sem palavras. Será que Armando realmente fala­ra a sério? Mas Mário, como sempre, levou tudo na brincadeira:

— Puxa, ia ser um bocado estranho. Isto é, daqui a algum tempo ela vai se casar, e o marido dela pode não gostar da ideia.

— Por acaso está falando em causa própria? — Armando insi­nuou. — Porque, se estiver, já vou avisando que farei o possí­vel para detê-lo.

— Ora, ora, o que há de mal num possível namoro entre eu e Betty? Somos amigos há tantos anos, gostamos um do outro e posso perfeitamente tomar conta dela tão bem quanto vo­cê. Melhor, até. Ela talvez nunca receba uma proposta tão boa quanto a minha.

Chegando à cocheira, Beatriz apanhou a mochila e prendeu-a à sela, sorrindo para Mário:

— É isso que eu mais admiro em você: a modéstia.

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*     *     *     *     *     *     *     *     

Já montados, os três seguiram pelo caminho que conduzia ao pequeno lago da propriedade. A certa altura, onde a trilha se estreitava, Armando tomou a dianteira, como nos velhos tempos, enquanto Beatriz era a segunda, seguida por Mário. Pela primeira vez ela se deu conta de como os dois realmente sem­pre haviam se preocupado em protegê-la. Sempre a trataram com igualdade nas brincadeiras, mas sem nunca se esquecerem de que era uma garota.


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