— Nunca! Desde quando você vem me dizer como devo me vestir? Afinal, para você, não passo de uma prima! Que direito tem de me criticar?
— Eu a considero como uma irmã — ele corrigiu, consciente de que mentia, pois isso fora antes de haverem se beijado. De lá para cá, muita coisa havia mudado em seu íntimo. Armando desejava sinceramente poder voltar a encará-la como a irmãzinha que nunca tivera, mas parecia impossível alimentar sentimentos fraternais em relação a Beatriz, aquela noite. Droga! Por que as coisas tinham que mudar?
As palavras de Armando mais uma vez a magoaram, pois, por mais que tentasse, parecia que jamais ia conseguir fazer com que ele a enxergasse com outros olhos. Mas, procurando não deixar transparecer a tristeza que a abatia, ergueu o queixo e disse simplesmente:
— Mas, para mim, você não é como um irmão. Nunca foi. E, agora, se me der licença, meu acompanhante já deve estar me procurando.
Armando agarrou-a pelo pulso.
— Acompanhante? Que acompanhante?! — perguntou, indignado. — Está querendo me dizer que veio acompanhada de um rapaz mesmo usando esse vestido? — A ideia o revoltava.
— Bem, você não achou que eu viria acompanhada de uma moça, não é?
Nisso, Roberto entrou no escritório e tornou a fechar a porta.
— Vocês dois querem, por favor, falar mais baixo? Estão dando um verdadeiro show para os convidados. Armando, solte-a! Quanto a você, Betty, acho melhor voltar logo para a sala. Todos os rapazes já deram pela sua falta.
— Eu imagino — adiantou-se Armando, antes que ela pudesse se pronunciar. — Com esse vestido, qualquer uma faria sucesso.
Roberto riu do ciúme do filho.
— Ora, Armando, deixe de agir como criança! Ela está linda e merece se divertir.
— Criança? Não seja ridículo, papai; só estou tentando protegê-la. Ela é como uma irmã para...
— Diabos, Don Armando Mendoza! — Beatriz explodiu. — Se você repetir mais uma vez que sou como uma irmã para você, não me responsabilizo por meus atos. E com licença, cavalheiros, pois pretendo aproveitar esta festa ao máximo.
— Ei, espere, Betty! — disse Armando, apressado. — Você não pretende voltar para lá vestida assim, não é?
— Observe e verá!
De tão nervosa e indignada, Beatriz nem se importou com os olhares que atraiu ao voltar para a festa. Armando era mesmo um sujeitinho petulante! Só faltava agora querer dar palpites nas roupas dela! Que lhe importava se nunca mais o visse? Sua vontade naquele instante era de voltar para casa e refugiar-se no escuro de seu quarto.
Mas Beatriz sabia que agindo assim iria de encontro à vontade dele, e isso seria dar-lhe mais importância do que merecia. O melhor era ficar até o fim da festa e tirar o máximo proveito da ocasião.
Nem bem chegara à festa quando alguém a enlaçou pela cintura e ergueu-a do chão, fazendo-a rodopiar. Temendo perder o equilíbrio, foi obrigada a apoiar-se num par de ombros largos e musculosos e, antes que pudesse recuperar o fôlego, viu-se pressionada contra um peito largo.
— Beatriz, meu amor — disse o moço barbudo, que a beijou apaixonadamente. — É sempre um prazer revê-la.